Autor: Luis Pimentel
Caricatura: Carlos Amorim
A crônica deste mês abre uma honrosa exceção. O personagem não nasceu no Rio, e sim no interior de Minas (Ubá); mas foi um dos cariocas da gema mais legítimos que esta cidade um dia hospedou: Ary Barroso.
O nosso homenageado de novembro (nasceu em um dia 7, no ano de 1903) chegou ao Rio bem jovem, para cuidar dos estudos. Mas só cuidou de boemia e de música (compôs obras-primas como “Aquarela do Brasil”, “Na Baixa do Sapateiro”, “Quindins de Iaiá”, “No tabuleiro da baiana” e muitas outras). Mineiro, cantou a Bahia como ninguém. Mas amou o Rio --sobretudo o Flamengo -- como poucos.
Ary Barroso foi múltiplo, exibindo um talento impressionante em todas as atividades: compositor, pianista, apresentador de programas de auditório, locutor e comentarista esportivo, vereador etc. Ficou órfão de pai e mãe muito pequeno e foi criado por tias. Uma delas apresentou o piano ao futuro gênio, fazendo-o auxiliá-la no lúdico e premonitório trabalho de acompanhar, nos teclados, os filmes mudos que emocionavam os ubaenses no Cinema Ideal.
Com 40 contos de réis no bolso – sua parte na herança de um tio abonado – Ary Barroso desembarcou no Rio de Janeiro em 1921. A experiência com o piano do cinema foi de grande valia, pois aqui ele acompanhou nos teclados algumas fitas dos seriados semanais, pulando imediatamente para o teatro: escreveu e/ou fez canções para grandes musicais do teatro de revista.
No carnaval de 1964 a Escola de Samba Império Serrano escolheu como enredo o tema Aquarela do Brasil, cujo samba-enredo começa assim: “Vejam essa maravilha de cenário/É um episódio relicário/Que o artista num sonho genial/Escolheu para este carnaval/E o asfalto, como passarela/Será a tela do Brasil em forma de aquarela”. Pouco antes de a escola pisar na avenida, chegou a notícia: Ary Barroso morreu. Quem assistiu garante que a Império conseguiu, apesar de tudo, fazer um belo carnaval.
(Luís Pimentel)
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